Adolescente de 15 anos viveu no hospital até
os 12 e foi rejeitado pela família. Atualmente, ele vive na casa de
assistência ao portador de paralisia cerebral Nosso Lar.
A adaptação após tantos anos no hospital foi difícil, mas a coordenadora
do Nosso Lar, Dolores Campos, conquistou o espaço de mãe no coração do
jovem, que não foi recebido pelos parentes
Desviando o olhar, Robert dá um sorriso tímido para as visitas. O olhar
se torna curioso e acompanha a dupla estranha que passeia pela casa. Mas
não é preciso muito tempo para descobrir o time do coração, o
super-herói predileto e o melhor amigo do garoto de 15 anos, que até os
12 teve como casa o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII. Com um ano e
três meses, Robert ingeriu soda cáustica. Passou por cirurgias para
reconstrução do esôfago, teve uma parada respiratória que comprometeu a
parte neurológica e, pouco a pouco, foi abandonado nas mãos de médicos e
enfermeiros, que, além de todos os cuidados possíveis, deram ao garoto o
amor negado pela própria família. No dia da alta, após 12 anos de
hospitalização, todos os parentes saíram de casa para não receber
Robert, que foi melancolicamente levado de volta ao leito 4 da
enfermaria da pediatria do João XXIII.
Há três anos o adolescente tem um lar com jardim florido, frequenta a
escola, ganhou novos amigos e o amor de outras pessoas. Ele vive na
casa de assistência ao portador de paralisia cerebral Nosso Lar. É o
mais novo e mais “esperto” dos 16 moradores, segundo a coordenadora da
entidade, Dolores Campos de Souza. Brincalhão, Robert adora música –
sertanejo universitária e pop internacional – e videogame. De manhã,
fica na cama até tarde com seu radinho, hábito adquirido no João XXIII, e
à tarde vai à Escola Sérgio de Freitas, mantida pelo Caminhos para
Jesus.
A adaptação fora do ambiente hospitalar asséptico e
impessoal não foi fácil. Robert se assustava com as árvores balançando e
o voo dos passarinhos. A vida real era amedrontadora. “No começo foi
difícil demais para ele. Durante um bom tempo ele passava o dia com a
gente e ia embora à tarde. Depois fizemos um teste e deixamos que ele
dormisse aqui. Ele ficou a noite inteira acordado, agarrado à mochila.
Na manhã seguinte o levamos de volta ao João XXIII e só algumas semanas
depois retomamos o processo de adaptação”, conta Dolores, eleita por
Robert sua mãe na nova casa. É ela quem recebe os presentes de Dia das
Mães feitos pelo adolescente. Paulo, o motorista que o leva todos os
dias para a escola, não só ganhou o título de pai como de melhor amigo,
segundo ele mesmo contou por meio de gestos.
Mimos
Como toda relação de mãe e filho, a de Dolores e Robert já teve
momentos de tensão. Cercado de cuidados e mimos pelos profissionais do
pronto-socorro, o garoto chegou ao Nosso Lar cheio de manha e não queria
saber de compartilhar as regras da casa. “O Robert era cheio de
vontades, muito mimado. Já brigamos por conta disso. Hoje temos um laço
afetivo, mas eu precisava colocar limite para que ele fizesse as sessões
de fonoaudiologia e fisioterapia. Se levarmos em conta o tempo que ele
viveu no hospital e que está aqui, a ambientação foi até rápida”, conta
Dolores.
O desenvolvimento também. Robert cresceu e amadureceu
com a convivência fora das quatro paredes da enfermaria. Quando pergunto
qual seu time do coração, ele provoca a “mãe” cruzeirense dizendo que é
o Atlético, time do “pai”. Depois, sob a ameaça de ganhar e ter que
vestir a camisa do Galo, o garoto, entre gargalhadas, refaz a resposta e
aponta a Raposa como seu clube favorito. Com gestos, diz que está
gostando da nova casa, mas revela a saudade dos amigos do João XXIII. Da
escola o garoto gosta “mais ou menos” e seu herói favorito é o
americano Ben 10. Além de senso de humor, Robert também tem um coração
solidário. Quando algum companheiro está em dificuldade, ele move sua
cadeira de rodas e o acalma até a chegar um dos cuidadores. Mesmo com a
traqueostomia, pede ajuda.
Infelizmente, seus gostos,
características e pequenas vitórias são ignorados pela família. Nos
últimos três anos, Robert não recebeu nenhuma visita da mãe. Nem mesmo
um telefonema de algum parente. Além de ultrapassar os problemas físicos
e neurológicos causados por um descuido, o adolescente também precisa
superar o abandono. “Somos cobrados de uma aproximação com a família,
mas é muito complicado. A própria assistente social do João XXIII nos
avisou que isso iria acontecer”, explica Dolores, orgulhosa do papel de
mãe que lhe coube na história afetiva de Robert.
Fonte; Portal Uai
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